Gestão na construção civil vai além do controle de prazo, custos e fornecedores; envolve também a ética nos processos e a imagem do negócio.
Insight
03 junho 2025
Governança em projetos e obras diminui riscos operacionais e reputacionais
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Escândalos como a fraude contábil de varejistas colocam luz sobre o ciclo de atuação das grandes empresas e demonstram a importância de disseminar a governança para todas as áreas da corporação. É comum que departamentos de suporte ligados à atividade principal da empresa sejam negligenciados, uma vez que não tem o foco do negócio e da liderança, como é o caso dos departamentos de Engenharia e Expansão Imobiliária. No entanto, é crucial garantir que a governança chegue também à gestão de projetos e obras, assim como a todas as outras. Ao assegurar que o profissionalismo e a ética alcancem estas áreas, é possível minimizar os riscos de desvios de conduta e de processos, além de garantir que a missão e a cultura da empresa sejam preservadas durante a expansão física dos negócios.
Empresas que atuam em rede, com várias unidades, em primeira análise, estão mais sujeitas aos riscos da falta de governança. Afinal, é mais difícil controlar o que acontece longe dos olhos da matriz.
Porém, em alguns casos, há até certa permissividade da gestão e aval da liderança com situações de não conformidade, seja pela pressa em inaugurar um novo ponto, seja por entender que a obra é um período transitório e não está sob o mesmo escrutínio que a linha de produção do negócio primário da empresa. Além disso, por envolver fornecedores diretos e terceirizados, muitas vezes, os valores da companhia não estão tão evidentes no canteiro de obra e no caminho até chegar nele.
Esses desvios podem ocorrer deliberadamente ou podem ser resultado da falta de planejamento e acompanhamento adequados. De toda forma, abrem espaço para irregularidades sérias. Como consequência direta, essa distância entre os valores da empresa e a realidade dos fatos prejudica a reputação da companhia e gera riscos financeiros. Economia direta no início e risco de prejuízos maiores depois. Vale mesmo a pena fazer sob a lógica do “sempre foi feito assim e funciona”? Provavelmente funcionará até quando uma auditoria chegar a estas áreas.
Como a governança se aplica a projetos e obras
A governança em projetos e obras nada mais é do que a acuracidade dos processos, o que proporciona qualidade, precisão, transparência e confiabilidade das informações.
Em termos práticos, estamos falando de atendimento à legislação, de cumprimento dos requisitos internos e normas técnicas, da atenção aos prazos e aos controles de custos. Ou seja, aspectos que influenciam diretamente a operação e também podem ter impactos sobre a imagem de uma empresa.
Imagine a repercussão de um acidente em uma obra em que o funcionário não estava utilizando os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) corretamente? Ou uma estrutura colapsar por conta de um projeto mal feito ou pelo uso de materiais de baixa qualidade? Ou, ainda, de denúncia de superfaturamento ou desvio de verba? Lembrou de algum caso? São situações críticas que afetam definitivamente a imagem de um negócio.
Faz parte da gestão de projetos e obras cuidar do bom andamento da construção ou reforma para que ela atenda ao cronograma e ao orçamento esperados. Mas uma equipe especializada neste serviço agrega muito mais valor ao ser também a guardiã da cultura da empresa no canteiro de obras, cuidando da ética durante os processos para evitar riscos de não conformidade.
Empresas comprometidas com metas ESG precisam ter ainda mais atenção a isso. Suas práticas precisam estar alinhadas aos compromissos assumidos diante da sociedade ou o risco reputacional pode ser irreversível.
Valesca Guimarães é diretora de Projetos e Obras da JLL.