Incentivos prometem acelerar o setor de data centers no Brasil
Após meses de expectativa desde seu anúncio, em maio, o governo federal finalmente publicou a Medida Provisória que estabelece o Plano Nacional de Data Centers (Redata). Com incentivos fiscais, incluindo desoneração para itens importados não fabricados no Brasil, o Redata pretende inserir o país em um cenário global competitivo, alinhado à digitalização e ao ESG (Ambiental, Social e Governança).
Para Bruno Porto, gerente de Industrial, Logística e Data Center da JLL, o plano deve ser um marco para consolidar o Brasil como um ambiente digital estratégico, sobretudo em um mundo que demanda cada vez mais capacidade de processamento, segurança e eficiência energética.
“Com um plano integrado, poderemos transformar o potencial latente do nosso país em oportunidades concretas. Sem dúvida, será um diferencial para destravar os investimentos em data centers daqui para frente”, diz Porto.
As metas são ambiciosas: atrair até R$ 2 trilhões em investimentos na próxima década, incentivar a infraestrutura digital, fomentar a adoção de energias renováveis e posicionar o Brasil como um hub de inteligência artificial (IA) e cloud computing na América Latina.
Haverá contrapartidas para as empresas, como atender a critérios de sustentabilidade, destinar parte da capacidade de processamento ao mercado interno e investimento local em projetos de pesquisa e inovação. Os incentivos também estimulam a descentralização dos empreendimentos, atualmente concentrados na região Sudeste.
Brasil tem grande potencial, mas gargalos atrasam desenvolvimento do setor
A viabilidade dos data centers depende de três pilares: acesso à energia, conectividade robusta e agilidade regulatória. Embora o Brasil se destaque principalmente pela sua matriz energética limpa, com mais de 90% da eletricidade gerada a partir de fontes renováveis, nem sempre essa energia está disponível na rede. Este é, aliás, um dos principais gargalos do setor: a transmissão elétrica, assim como o tempo de resposta para conexões com o sistema nacional.
“Não basta ter geração de energia disponível. É preciso garantir que a infraestrutura de transmissão chegue até os locais onde os data centers serão instalados, e isso precisa acontecer dentro de prazos compatíveis com os cronogramas de obras e investimentos”, afirma Cesar Mello, diretor de Projetos e Obras da JLL.
Ele cita ainda outros entraves para o desenvolvimento dessa indústria, como a burocracia nos licenciamentos e a alta carga tributária. O Redata surge com a promessa de enfrentar esses gargalos. Soma-se a isso o apelo crescente do Brasil como um destino estratégico para investimentos sustentáveis.
“Atualmente, a tributação complexa e os encargos em cascata elevam em até 60% o custo de importação de equipamentos. Além disso, há grande burocracia para obtenção de licenças e alvarás, o que atrasa o início de novos empreendimentos. Agora, com uma política nacional clara, o Brasil ganha competitividade”, afirma Mello.
Impulso à infraestrutura e à transformação digital
O desenvolvimento do setor de data centers no Brasil favorece não só a competitividade econômica, mas a soberania nacional e a segurança dos dados, pois reduz a dependência de infraestrutura internacional e melhora a governança sobre dados sensíveis. Além disso, impulsiona a inovação, a infraestrutura e a transformação digital, aumentando a capacidade de processamento, armazenamento e conectividade, essenciais para IA, 5G, nuvem e automação.
Esses elementos atraem empresas de tecnologia, startups, indústrias 4.0, serviços financeiros e muitos outros, impulsionando o desenvolvimento do país. Com data centers locais, a qualidade dos serviços tende a aumentar porque vão estar mais próximos do usuário, como explica o gerente de Industrial, Logística e Data Center da JLL.
“A maior presença de infraestrutura permite que as pessoas tenham mais aplicações no seu dia a dia. Se compararmos o celular de um americano com o de um brasileiro, a quantidade de aplicativos disponíveis é muito maior lá, justamente por conta da infraestrutura mais robusta que há naquele país”, diz Porto.
Uma das localizações que despontam como promessas no mapa da infraestrutura digital e sustentável do Brasil é o Porto do Açu, no norte do estado do Rio de Janeiro. Trata-se de uma região estratégica para novos empreendimentos, especialmente os que demandam energia limpa e disponibilidade hídrica.
“Além de infraestrutura robusta, a região possui abundância de água de reuso e potencial energético de até 4 GW, quatro vezes mais do que áreas já consolidadas”, destaca o especialista da JLL. O Açu vem sendo considerado um polo natural para atração de Data Centers e indústrias de baixo carbono, como as produtoras de ferro HBI (Hot Briquetted Iron), fortalecendo a conexão entre a transição energética e a transformação digital.