Energia renovável vira foco de investimentos em infraestrutura imobiliária
A crescente demanda por energia limpa está redefinindo as estratégias de investimento em infraestrutura. O Brasil, com um dos maiores potenciais mundiais de geração de energia renovável, desponta como protagonista global da transição energética, e esse movimento já influencia diretamente o mercado imobiliário.
“O Brasil vem avançando em políticas públicas e projetos que buscam integrar de forma definitiva a sustentabilidade ao mercado imobiliário, o que já é visível nas novas incorporações que adotam soluções mais limpas, como sistemas fotovoltaicos e reaproveitamento de água de chuva”, afirma Luciana Arouca, diretora de Sustentabilidade da JLL.
No segmento corporativo, essa transformação vem acompanhada de novas exigências por parte dos inquilinos. Empresas que assumiram compromissos globais de descarbonização têm pressionado por critérios sustentáveis nos contratos de locação, segundo Luciana.
Entre os requisitos mais recorrentes estão o uso de energia com lastro renovável, vagas com recarga para veículos elétricos e, claro, edifícios com certificações verdes em sua operação, como LEED ou EDGE. “A nova versão da certificação (v5), por exemplo, já inclui indicadores claros para iniciativas de descarbonização, com foco direto em metas mais rigorosas para emissões de carbono, bem como na preparação para mudanças climáticas”, diz a especialista da JLL.
Essa tendência também é evidente no setor logístico. Dados do U.S. Green Building Council (USGBC) mostram que o número de projetos de construções verdes no Brasil triplicou no primeiro quadrimestre de 2024 na comparação com o mesmo período de 2023, dando um salto de 200%.
Para Bruno Porto, gerente de Industrial, Logística e Data Center da JLL, o que impulsiona essa mudança é a combinação entre viabilidade econômica e vantagens operacionais. “Hoje, construir uma usina solar, por exemplo, é mais rápido e competitivo do que investir em uma hidrelétrica, que também é renovável, mas gera grandes impactos ambientais. As soluções de energia renovável estão se tornando escaláveis e a um custo acessível, o que acelera sua adoção.”
No setor de data centers, no qual a energia é o principal insumo, a lógica é ainda mais evidente. “Empresas globais de tecnologia exigem energia renovável certificada para garantir o cumprimento de suas metas ESG. Além disso, elas também buscam imóveis que assegurem segurança, estabilidade e eficiência energética desde a infraestrutura”, explica Porto.
O assunto também está na agenda do segmento residencial. O programa Minha Casa Minha Vida, por exemplo, incorpora em sua nova fase critérios de eficiência energética e sustentabilidade, apontando uma tendência para os próximos anos. Isso demonstra o esforço de um dos maiores programas habitacionais do país em adotar novas diretrizes mais ecológicas e sustentáveis.
Brasil lidera transição energética global
Esse novo paradigma coloca o Brasil em posição estratégica. Com aproximadamente 85% da sua matriz elétrica proveniente de fontes renováveis (principalmente hídrica, mas também eólica, solar e biomassa) o país se torna um destino competitivo para operações intensivas em energia.
“Nosso potencial é gigantesco. Temos regiões com radiação solar superior à europeia em até 50% e corredores de vento constantes no Nordeste, com fator de capacidade acima da média global”, pontua Luciana.
Ela destaca ainda que a aprovação da taxonomia verde brasileira - sistema que definirá quais atividades são sustentáveis para orientar investimentos - será outro divisor de águas. “Essa estrutura trará critérios claros para investidores, com impactos importantes em incentivos fiscais, regulação e crédito. É um marco para o Brasil e para o mercado”, reforça.
O Porto do Açu, no norte do estado do Rio de Janeiro, é citado pelos executivos como um exemplo promissor de polo para novos empreendimentos sustentáveis. “Além de infraestrutura robusta, a região possui abundância de água de reúso e potencial energético de 4 GW, quatro vezes mais do que áreas já consolidadas”, afirma Bruno Porto. “É um território estratégico para atrair data centers e indústrias que buscam produção verde, como o ferro HBI.”
Nesse cenário, a JLL reforça seu papel como consultora imparcial nas decisões de investimento. “Nosso compromisso é com o cliente. Atuamos para garantir que a solução apresentada seja realmente confiável, segura e vantajosa a longo prazo. Contratos de fornecimento de energia, especialmente os de mercado livre ou PPA, são complexos e com cláusulas rígidas de saída. Por isso, é essencial contar com análise técnica, jurídica e estratégica antes de firmar qualquer compromisso”, recomenda a especialista.
Com a COP 30 prevista para ocorrer no Brasil em novembro, tendo o tema da transição energética no centro das discussões, o país consolida sua oportunidade de liderar globalmente um novo ciclo de investimentos sustentáveis.
“Esse é o momento do Brasil mostrar sua força. Temos os recursos, o know-howe a urgência do mercado para avançar em direção a uma economia mais verde, resiliente e competitiva”, conclui Luciana.