Computação quântica: o próximo salto da tecnologia que vai transformar o futuro dos data centers
A ONU proclamou 2025 como o Ano Internacional da Ciência e Tecnologia Quântica, atraindo atenção e recursos globais para essa tecnologia transformadora. Enquanto a sociedade ainda descobre as aplicações da inteligência artificial (IA), gigantes da tecnologia e um ecossistema de startups trabalham para acelerar a computação quântica, considerada a próxima disrupção tecnológica. Segundo estudo da JLL, o setor de data centers está no centro dessa transformação, que deve criar modelos híbridos capazes de unir computação clássica, IA e processadores quânticos.
Avanços recentes em chips e técnicas de correção de erros indicam que o setor está cada vez mais próximo de aplicações comerciais. E isso terá impactos diretos no mercado imobiliário, sobretudo na demanda por data centershíbridos, afirma Bruno Porto, Gerente de Negócios Imobiliários Logísticos, Industriais e Data Centers da JLL.
“Estamos acompanhando uma transformação semelhante à que vimos com a IA, mas com impacto potencial ainda mais profundo. A computação quântica não vai substituir os data centers clássicos, mas complementá-los, criando a necessidade de instalações altamente especializadas e abrindo novas oportunidades de investimento imobiliário.”
Embora ainda nascente, essa indústria atraiu cerca de US$ 2 bilhões em investimentos em 2024, com projeções de chegar a US$ 20 bilhões anuais até 2030. Fusões e aquisições, como a compra da Oxford Ionics pela IonQ por US$ 1,1 bilhão, sinalizam o início de um ciclo de aceleração semelhante ao observado na IA.
O poder da computação quântica
Enquanto a computação clássica utiliza bits que representam 0 ou 1, a quântica trabalha com qubits, que podem ser 0, 1 ou ambos simultaneamente, graças ao fenômeno da superposição. Isso permite processar inúmeras possibilidades em paralelo.
O Google demonstrou esse poder ao resolver, em menos de cinco minutos, um cálculo que um supercomputador clássico levaria 10 septilhões de anos — um número muito superior à idade estimada do universo.
Além de revolucionar a capacidade de processamento, a computação quântica tende a caminhar lado a lado com a inteligência artificial. Elas são diferentes, mas complementares: enquanto a IA ajuda a reduzir erros e otimizar o desempenho dos sistemas quânticos, a computação quântica poderá acelerar exponencialmente a IA, abrindo novos horizontes para aplicações complexas.
A IA roda em hardware clássico e já está sendo utilizada comercialmente de forma crescente. O hardware de computação quântica ainda está em desenvolvimento, mas o uso comercial se aproxima rapidamente. A computação híbrida une o imenso poder da computação quântica com as avançadas capacidades da IA e é o futuro das implantações em data centers.
Data centers híbridos: a próxima fronteira
Para operar computadores quânticos, será necessário criar ambientes com resfriamento criogênico, blindagem eletromagnética e sistemas de controle contra ruído e contra a perda de suas propriedades quânticas. Isso significa que os data centers híbridos quântico-clássicos terão áreas projetadas especificamente para esses requisitos, mantendo proximidade com a infraestrutura da computação clássica.
O Leibniz Supercomputing Centre, na Alemanha, é um exemplo dessa tendência, ao instalar hardware quântico em seu campus, com isolamento físico e suporte a sistemas clássicos.
Nos próximos anos, a maior parte do desenvolvimento deve permanecer em hubs quânticos ligados a universidades e centros de pesquisa. Mas, à medida que a tecnologia amadurecer, é plausível que QPU (Quantum Processing Units) se tornem um componente comum nos data centers comerciais.
“O setor imobiliário precisa acompanhar esse movimento desde já. Investidores que entenderem a lógica dos hubs quânticos e começarem a construir expertise neste momento terão uma vantagem significativa quando a tecnologia alcançar escala comercial”, diz o especialista da JLL.
Setores com potencial transformador
De acordo com o estudo da JLL, os principais setores que podem se beneficiar da revolução trazida pela computação quântica incluem:
● Saúde: desenvolvimento de medicamentos, tratamentos personalizados e análise de dados genômicos.
● Logística e supply chain: otimização dinâmica de frotas e resiliência das cadeias de suprimentos.
● Clima e energia: previsão climática avançada e eficiência no balanceamento de redes elétricas.
● Serviços financeiros: algoritmos de negociação, cibersegurança e modelagem de riscos.
● Agricultura: previsões ambientais precisas e maior proteção das plantações.
● Ciência dos materiais: criação de baterias mais eficientes, materiais mais leves e resistentes.
● Criptografia: desenvolvimento de novos métodos de segurança diante da ameaça quântica aos padrões atuais.
“Os casos de uso mostram que estamos falando de uma tecnologia transversal, com impacto em diferentes indústrias e, consequentemente, nas demandas de infraestrutura física. Isso abre um campo fértil para o setor imobiliário, especialmente em regiões que já concentram hubs de inovação”, conclui Porto.