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Cidades inteligentes: o papel da tecnologia na construção de um imobiliário mais sustentável
Num momento em que os centros urbanos concentram mais de metade da população mundial — e são responsáveis por cerca de 70% das emissões globais de carbono — o desafio da sustentabilidade urbana exige, literalmente, respostas cada vez mais inteligentes.
A integração da inteligência digital na gestão das cidades e dos edifícios está a transformar silenciosamente o setor imobiliário. Mas o que significa, afinal, tornar uma cidade ou um ativo imobiliário “inteligente”? E como é que esta inteligência pode acelerar a transição para um modelo mais sustentável?
A boa notícia é que a tecnologia já permite transformar dados em decisões e operações mais sustentáveis, criando um ecossistema urbano mais eficiente, resiliente e habitável. A tecnologia atua, portanto, como catalisador de sustentabilidade.
Mas a inteligência urbana é muito mais do que sensores e dashboards. É a capacidade de medir, prever e agir em tempo real, através da recolha de dados, analise e ação de forma eficiente, com impacto ambiental, social e económico positivo. No setor imobiliário, esta inteligência traduz-se em edifícios que aprendem, adaptam-se e melhoram continuamente o seu desempenho, o que se pode traduzir numa redução do consumo de energia até 30%, da utilização de água até 20% e das emissões de gases de efeito de estufa de 15%.
Alguns exemplos concretos incluem os Sistemas de gestão técnica inteligente (BMS - Building Management Systems) que otimizam o consumo de energia, ventilação e iluminação em tempo real, reduzindo desperdícios e emissões; a IoT (Internet of Things) para monitorizar a qualidade do ar, ocupação dos espaços e padrões de uso, promovendo ambientes mais saudáveis e eficientes, os Digital twins, réplicas virtuais de edifícios, que permitem simular o impacto de alterações no design ou operação antes de serem implementadas, otimizando a performance ambiental, e as plataformas de análise de carbono operacional e incorporado, que ajudam a medir, prever e reduzir a pegada dos ativos ao longo do seu ciclo de vida.
Portugal tem dado passos importantes na digitalização e descarbonização do setor imobiliário, mas ainda enfrenta uma adoção desigual destas soluções. Segundo o relatório Smart Cities Portugal 2030, mais de 70 municípios portugueses já implementaram algum tipo de tecnologia inteligente, desde plataformas de gestão urbana até sistemas de mobilidade sustentável. No entanto, no setor dos edifícios, a integração de soluções inteligentes ainda é limitada sobretudo a novos projetos ou a edifícios de grande dimensão e uso corporativo.
O maior potencial de transformação está no parque edificado existente, responsável por cerca de 30% do consumo de energia em Portugal. A combinação de renovação energética com inteligência digital será crucial para atingir as metas de descarbonização estabelecidas no Roteiro para a Neutralidade Carbónica e na Estratégia de Longo Prazo para a Renovação dos edifícios, ambos com um horizonte de implementação até 2050.
Inteligência aplicada à decisão imobiliária
Mas a sustentabilidade não se faz apenas na operação dos edifícios. A tecnologia tem um papel crescente também na tomada de decisões mais sustentáveis ao longo do ciclo de investimento, e esta “inteligência” está a mudar a forma como se planifica, investe e gere património imobiliário.
- Ferramentas de ESG data analytics permitem avaliar os riscos climáticos, desempenho energético ou acesso a transportes antes de uma aquisição.
- Soluções de monitorização de portfólios que permitem comparar edifícios, estabelecer metas de redução de carbono e alinhar os ativos com as exigências regulatórias (como a taxonomia europeia ou o SFDR).
- Integração com certificações ambientais como LEED, BREEAM ou WELL, facilitam o reporting e o cumprimento de critérios técnicos complexos.
E temos dados que o comprovam. De acordo com estudos recentes, 60% dos investidores institucionais já consideram ferramentas de ESG analytics essenciais no processo de aquisição e gestão de ativos (Source PwC), e os portfólios que integram soluções de smart buidlign têm, em média uma valorização entre 5% e 11% superior a ativos convencionais (JLL Future of Work Report).
Mas existem outros benefícios para além da sustentabilidade! Edifícios inteligentes geram valor económico, reputacional e social. São mais eficientes na gestão de recursos, reduzem custos operacionais, minimizam riscos regulatórios e oferecem melhores condições de bem-estar aos ocupantes. Além disso, contribuem para o posicionamento de empresas e cidades como agentes de transição. A inteligência torna-se, assim, uma ponte entre desempenho financeiro e impacto ambiental, acelerando a transformação do setor imobiliário rumo à neutralidade carbónica.
O futuro é digital, mas também humano! A inteligência das cidades não está apenas na tecnologia, mas na forma como esta é usada para criar ambientes mais saudáveis, inclusivos e responsáveis. A colaboração entre tecnologia e sustentabilidade é hoje uma das principais alavancas para transformar o setor imobiliário. E, nesse sentido, edifícios inteligentes não são apenas uma tendência — são um passo inevitável para construirmos cidades verdadeiramente sustentáveis.
Recomendações da equipa de sustentabilidade da JLL
Comece pela medição: Invista em sistemas de recolha e análise de dados (energia, água, CO₂, ocupação) para conhecer o desempenho real dos edifícios e identificar oportunidades de melhoria.
Priorize a interoperabilidade: Escolha soluções tecnológicas que possam integrar-se entre si e com plataformas futuras, evitando sistemas isolados e maximizando a eficiência operacional.
Combine inteligência com certificação: Utilize a tecnologia para facilitar o cumprimento de critérios de certificações como LEED, BREEAM ou WELL, automatizando a monitorização e a documentação de evidências.
Integre sustentabilidade desde o projeto: Incorporar soluções digitais e estratégias low-carbon logo nas fases iniciais de conceção é mais eficiente e económico do que tentar corrigir na operação.
Forme equipas para tirar partido da tecnologia: A inteligência dos edifícios só gera valor se as equipas souberem interpretar os dados e atuar com base neles. Capacitação é tão importante quanto inovação.